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A essência da carreira de Hayao Miyazaki se revela em uma única frase oculta em A Princesa Mononoke

A essência da carreira de Hayao Miyazaki se revela em uma única frase oculta em A Princesa Mononoke.

O mundo imperfeito de Hayao Miyazaki: beleza, dor e a coragem de continuar

Os filmes de Hayao Miyazaki são povoados por criaturas fantásticas, paisagens exuberantes e jornadas grandiosas. No entanto, no coração dessas histórias reside algo muito mais humano e silencioso: a convicção de que, por mais cruel ou imperfeito que o mundo seja, a vida ainda vale a pena ser vivida. Esse sentimento discreto sustenta até mesmo suas obras mais ambiciosas — e em nenhum lugar isso é expressado com tanta clareza quanto em uma frase simples de A princesa mononoke, dita não por um herói, mas por um dos leprosos acolhidos por lady eboshi:

“O mundo é amaldiçoado. Mas ainda assim, você encontra razões para continuar vivendo.”

À primeira vista, a frase pode soar como um detalhe passageiro no meio do conflito grandioso entre deuses e homens. Mas nela repousa o núcleo emocional de toda a obra de Miyazaki. Essa afirmação não nega o sofrimento, nem oferece um falso consolo. Ela encara a dor do mundo com honestidade — e, mesmo assim, insiste na possibilidade de sentido. Mais do que uma fala isolada, ela é uma visão de mundo recorrente, que atravessa toda a carreira do cineasta: de Nausicaä do vale do vento a Vidas ao vento, suas histórias refletem a tensão constante entre decadência e esperança, destruição e beleza, perda e renovação.

Studio Ghibli - Princess Mononoke Lady Eboshi's soldier talking about humanity while being injured and in bed

O mundo quebrado, mas redimível de A Princesa Mononoke

No centro da filmografia de Miyazaki está a ideia de um mundo ferido: poluído, devastado pela ganância, corrompido pela guerra. E, no entanto, um mundo que ainda merece ser cuidado. A princesa mononoke talvez seja sua obra mais explicitamente política, abordando com coragem a destruição ambiental e os choques violentos entre humanidade e natureza. Mas Miyazaki nunca cede ao desespero completo. Ele oferece um equilíbrio delicado: os homens podem ferir, mas também podem curar.

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Ashitaka, o protagonista, é a personificação desse paradoxo. Ele busca compreender — não destruir — ambos os lados do conflito. E lady eboshi, longe de ser uma vilã comum, é uma das figuras mais complexas de Miyazaki: enquanto desafia os deuses da floresta, também resgata leprosos, dá dignidade a párias e constrói uma nova comunidade humana. O bem e o mal, em seu mundo, estão inseparavelmente entrelaçados. A maldição existe, mas o potencial para compaixão também.

Esse olhar ambíguo atravessa filmes como Nausicaä do vale do vento, onde uma selva tóxica revela ser, na verdade, um sistema que tenta purificar um mundo poluído; ou O castelo animado, onde a maldição que envelhece Sophie a liberta para descobrir sua verdadeira força. Em cada caso, a adversidade não é apenas destruição — é também transformação.

A coragem silenciosa de viver

Os heróis de Miyazaki raramente são invencíveis. São crianças, jovens ou sonhadores presos em forças maiores do que eles. Mas todos compartilham uma escolha fundamental: continuar. Eles não ignoram a dor — carregam-na consigo — e, mesmo assim, caminham adiante.

Chihiro, em A viagem de Chihiro, aprende a sobreviver em um mundo mágico estranho e perigoso não com força ou violência, mas com trabalho, gentileza e resiliência. Sophie, envelhecida pela maldição, encontra na fragilidade uma força inesperada. Mesmo Jiro, em Vidas ao vento, cria beleza (aviões de caça) em um tempo destinado à destruição, e o faz sem ilusões sobre o preço de seus sonhos.

Jiro Horikoshi

Em todos esses casos, a mensagem é a mesma: a vida é cheia de dor — mas é possível atravessá-la com dignidade. A frase do leproso em A princesa mononoke se torna um sussurro persistente por trás de cada narrativa de Miyazaki: “Continue. Mesmo assim, viva.”

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A delicada harmonia entre tristeza e beleza

Em Meu amigo totoro, não há vilões nem guerras — mas existe o medo silencioso da doença de uma mãe, da perda, da morte. Satsuki e Mei não escapam desse medo através da fantasia; elas o enfrentam, brincando e imaginando com Totoro para suportar a espera e a incerteza.

Em Ponyo, a magia do mar esconde ansiedades reais: uma mãe solitária, um pai ausente, uma família frágil diante das mudanças da natureza. De novo, Miyazaki não oferece soluções fáceis. O medo permanece, mas é atravessado — com amor, esperança e coragem.

Totoro, Mei, and Satsuki walking through a grass field in My Neighbor Totoro

Esse paradoxo — o mundo amaldiçoado, mas ainda assim digno de cuidado — é o que faz seus filmes ressoarem tão profundamente com o público. Ele não pede fuga da realidade; pede aceitação e perseverança.

Por que voltamos sempre a Miyazaki?

Talvez seja porque seus filmes não entregam respostas fáceis ou finais fechados. Eles deixam um sentimento agridoce, melancólico e real. Lembram que o mundo não será consertado por uma única história — mas que as histórias podem nos ajudar a suportá-lo.

Miyazaki mostrou, filme após filme, que a inocência pode sobreviver mesmo nos piores dias, que a bondade importa mesmo quando ninguém vê, que lutar por beleza e vida é um dever humano, mesmo quando o mundo parece irreparável. Seus personagens não são perfeitos; eles apenas tentam. E é isso que nos faz amá-los.

Miyazaki at his desk

A frase em A princesa mononoke resume tudo:

“O mundo é amaldiçoado. Mas ainda assim, você encontra razões para continuar vivendo.”

É mais que uma linha de diálogo. É um manifesto silencioso. É a força que move Chihiro, Sophie, Ashitaka — e os espectadores também. Não para fugir do mundo, mas para lembrar como viver nele.

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Fonte: SR

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