Os filmes de super-heróis parecem ter perdido o timing. Contudo, este ano promete trazer mudanças e revitalização para o gênero. A maioria das produções está se esforçando para repetir o sucesso de fórmulas que, de certa forma, já se esgotaram. O Universo Cinematográfico Marvel tenta organizar seu multiverso, enquanto o Universo DC busca se reinventar completamente. Nesse momento arriscado, em que testamos se essas mudanças vão funcionar, surge uma oportunidade para histórias mais ousadas e menos convencionais brilharem. É nesse vácuo que um reboot de Kick-Ass, com sua violência crua e humor ácido, faz mais sentido do que nunca.
Talvez pareça uma aposta alta demais? Em certos aspectos, sim. No entanto, essa busca por algo novo e diferente não é apenas um capricho. Afinal, é o resultado natural de um gênero que demonstra sinais de cansaço e luta para encontrar um novo caminho. Após o auge de Vingadores: Ultimato, que encerrou uma era de forma tão satisfatória, Marvel e DC se depararam com um desafio: como continuar a criar histórias que realmente empolguem o público? As pessoas estão cansadas de filmes e séries que prometem ousadia, mas entregam mais do mesmo, com personagens que aparentam profundidade, mas funcionam como meros acessórios à espera de um novo crossover.

Um reboot de Kick-Ass tem potencial porque não precisa agradar a todos e, sinceramente, nem deveria. A essência da história reside em provocar desconforto, gerar controvérsia e confrontar o espectador. Basta lembrar dos filmes de Deadpool (especialmente Deadpool & Wolverine): ninguém imaginava que um filme barulhento, para maiores de idade e cínico faria tanto sucesso de bilheteria. Mas aconteceu, não porque foi feito para o grande público, mas sim porque se destacou e atraiu aqueles que estavam saturados das fórmulas tradicionais. Além disso, Kick-Ass pode ser o primeiro reboot a desafiar a tendência de reviver o passado, ironizando a obsessão pela nostalgia e trazendo algo realmente novo. A narrativa explora a metalinguagem, o que sempre oferece uma perspectiva interessante. Um filme assim, hoje, encontraria espaço para brilhar e, sem dúvida, conquistaria seu público. Afinal, já se passaram mais de 10 anos desde o lançamento original, tempo suficiente para uma nova versão de uma franquia de super-heróis.
A ideia se torna ainda mais atraente porque, ao contrário de outras franquias, Kick-Ass ainda tem muito a explorar. A trama nunca dependeu de um único personagem, mas sim da seguinte questão: e se pessoas comuns tentassem ser super-heróis? E se a violência fosse real e sem filtros? E se ser um herói fosse apenas uma forma de expor a fragilidade humana? Essa premissa, especialmente no contexto atual de um mundo ansioso, dividido e conectado, pode ser ainda mais impactante. E, diferentemente de outros reboots que apenas repetem os mesmos rostos e enredos, este tem espaço para correr riscos, causar desconforto e apresentar uma sátira inteligente.
Mesmo que essa nova versão de Kick-Ass não se torne o filme mais assistido, ele pode ser o mais comentado. Essa repercussão incentivaria outros projetos a ousarem mais e abriria portas para produções mais arriscadas. Além disso, enviaria uma mensagem aos grandes estúdios como Marvel e DC: ainda existe muita criatividade fora das fórmulas batidas. Afinal, um filme como esse causa impacto, gera discussões online e lembra a todos que filmes de super-heróis podem ser mais do que apenas mais uma franquia a caminho de um novo crossover, repleto de referências aos fãs, easter eggs, efeitos visuais genéricos, piadas prontas ou um multiverso reciclado.
Um reboot de Kick-Ass não é apenas necessário, ele precisa ser feito da maneira certa. E, felizmente, parece que isso pode acontecer em breve, de uma forma ousada e promissora.
Um Novo Reboot de Kick-Ass Pode Estar a Caminho

Matthew Vaughn, o diretor do primeiro filme, revelou que está construindo um novo universo cinematográfico que culminará no retorno de Kick-Ass, mas de uma forma surpreendente: como o terceiro filme de uma trilogia. Antes disso, dois filmes inéditos serão lançados: School Fight e Vram, ambos ambientados no mesmo universo, mas com personagens e histórias distintas. É uma jogada arriscada, mas bastante promissora. Em vez de simplesmente lançar um reboot, Vaughn está criando um novo contexto, tom e lógica para esse mundo de vigilantes.
Em uma entrevista, ele mencionou o potencial desse novo projeto, afirmando que o terceiro filme pode ser um reboot de Kick-Ass, mas também uma espécie de sequência, algo totalmente novo que chame a atenção. Segundo ele, assim como Kick-Ass reinventou e criou um super-herói para maiores de idade, algo que ninguém estava fazendo na época, essa nova abordagem levará esse conceito a um novo patamar. Não será apenas uma sequência, mas uma forma totalmente nova de fazer Kick-Ass, ainda mais ousada.
Enquanto os estúdios competem para criar superproduções repletas de participações especiais, esse novo projeto parece seguir o caminho oposto: menos espetáculo e mais conteúdo. Vaughn aposta em uma versão metalinguística, o que faz sentido. Após produções como Deadpool, The Boys, Peacemaker e outras, ficou claro que o público não só entende as regras do jogo dos super-heróis, mas também adora vê-las serem quebradas. Esse projeto não está sendo tratado como apenas mais um produto, mas como uma declaração. E isso é algo raro de se ver.
Mais do que necessário, esse retorno parece urgente. As pessoas anseiam por algo novo, e por novo, não nos referimos a mais um multiverso ou uma versão sombria de um herói. Falamos de ousadia, ironia, de cutucar a ferida em vez de escondê-la. Kick-Ass tem potencial para fazer isso como ninguém, porque foi criado para desafiar as convenções, provocar e causar desconforto.
Trazer a história de volta agora, com essa energia, não é uma questão de nostalgia. Se Vaughn cumprir o que está prometendo (e tudo indica que sim), este pode ser o primeiro reboot em anos que realmente faça sentido. Não apenas para refazer o que já foi feito, mas para expor o gênero e mostrar o que ele se tornou. O público está pronto para isso. E Kick-Ass pode retornar exatamente como deveria: chutando bundas.
Fonte: CB