O Adult Swim não era apenas um ruído de fundo para quem assistia TV tarde da noite. Era o lugar onde o anime explodiu nos EUA. Obras como Cowboy Bebop, Inuyasha e Outlaw Star transformaram espectadores casuais em fãs fervorosos. Mesmo agora, Lazarus está ajudando a manter a chama acesa. Quando Adult Swim era novidade no início dos anos 2000, parecia que tudo podia ir ao ar à meia-noite, e às vezes acontecia. Entre robôs gigantes, caçadores de recompensas e meio-demônios, uma obra se destacou por ser silenciosa, fria e completamente devastadora. Essa obra era Wolf’s Rain e, duas décadas depois, sua atmosfera gélida e peso emocional ainda afetam da mesma forma.

Wolf’s Rain não gritava por atenção. Deslizou para Adult Swim em 2003 como uma nevasca. Enquanto FLCL pulava pelas paredes e Trigun explodia pelo deserto, Wolf’s Rain apenas contemplava sua tristeza. Não havia piadas, nem fanservice, nem respostas claras. Apenas lobos, ruínas e um sonho chamado paraíso. Se você estava procurando outro Cowboy Bebop, este não era. Mas se você persistisse, encontraria algo totalmente único e emocionalmente comovente. Para uma geração de fãs, tornou-se uma das obras mais inesquecíveis a ir ao ar no meio da noite.

Equipe de Bebop se reuniu para a criação de Wolf’s Rain

Fazer este anime desanimador quase os quebrou

Afinal, Wolf’s Rain reuniu talentos de peso. Foi produzido pelo Studio Bones, fundado por ex-funcionários da Sunrise, e dirigido por Tensai Okamura. A roteirista era Keiko Nobumoto. E a música? Pura Yoko Kanno. Basicamente, era a equipe de Cowboy Bebop se reunindo para algo mais frio e triste. O designer de personagens Toshihiro Kawamoto completou o time dos sonhos. A roteirista Nobumoto chamou Wolf’s Rain de “um réquiem para um mundo moribundo”. Okamura disse que a intenção era que parecesse uma fábula. A trilha sonora de Kanno envolveu tudo em piano, cordas e vozes que se desvanecem. Foi uma obra feita por pessoas que sabiam como te machucar lindamente.

Nos bastidores, as coisas ficaram difíceis. Bones ainda era um studio jovem tentando realizar algo incrivelmente ambicioso. Resultado? Quatro episódios de recapitulação foram lançados bem no meio da exibição de Wolf’s Rain. Os fãs não ficaram entusiasmados. A equipe estava exausta. O diretor Okamura admitiu que estavam “trabalhando além de nossos limites”. Mas ninguém desistiu. O tom da obra — perda, decadência, inutilidade — refletia-se na dificuldade de trazê-la à vida. Nobumoto disse mais tarde que a luta nos bastidores apenas aprofundou a mensagem. Esta não era apenas uma história sobre lobos. Era sobre o que você faz quando tudo começa a desmoronar.

Lobos à beira do mundo

Quando o silêncio atinge com mais força

Em um futuro congelado onde a natureza quase desapareceu, Wolf’s Rain acompanha quatro lobos — Kiba, Tsume, Hige e Toboe — que ocultam suas identidades entre os humanos enquanto perseguem o mito do paraíso. Eles são atraídos por Cheza, uma garota nascida de flores lunares, cuja ligação com seu objetivo nunca é totalmente explicada. Conforme viajam, o mundo ao redor deles se desfaz. As cidades são cascas vazias. As pessoas se apegam à sobrevivência sem esperança. Os lobos seguem em frente, cada um carregando seu próprio sofrimento silencioso. O que começa como uma busca por sentido lentamente se torna algo mais pessoal. Em sua quietude, Wolf’s Rain fala suavemente sobre perda, memória e crença.

Toshihiro Kawamoto disse certa vez que eles “os desenharam como fantasmas no final”, e esse sentimento permanece em cada quadro. Ao invés de grandes batalhas ou ritmo acelerado, Wolf’s Rain deixa sua atmosfera fazer o trabalho pesado. O episódio 14, “The Fallen Keep”, prende os personagens em uma ruína coberta de neve onde nada parece vivo. O episódio 26, “Moonlight Crucible”, sinaliza um ponto de ruptura do qual o grupo nunca se recupera totalmente. O OVA final empurra tudo ainda mais, trocando respostas por atmosfera. Esses momentos não constroem uma resolução. Eles afundam lentamente, tornando-se parte da textura da obra. O silêncio permanece muito depois que a história termina.

Melancolia de sábado à noite

Críticos o chamaram de belo e brutal

Em 24 de abril de 2004, Wolf’s Rain entrou para a programação noturna do Adult Swim ao lado de obras rápidas como Trigun e FLCL. A princípio, os fãs não sabiam o que pensar. Parecia ótimo. Soava incrível. Mas o que estava fazendo? A IGN disse que era “desolador”, o que era um eufemismo. Fóruns de mensagens se iluminaram com confusão, frustração e admiração. E como a transmissão original não incluía a finalização em OVAs, muitos espectadores ficaram olhando para uma história inacabada. Quando o resto finalmente foi lançado em DVD, mudou tudo — se você ainda tivesse energia para voltar.

Mesmo para os padrões do início dos anos 2000, Wolf’s Rain era difícil de assistir. Era lento. Era triste. Se recusava a te dar a mão. Alguns críticos não sabiam o que fazer com isso. A Anime News Network chamou de “punitivo”, mas admirou o artesanato. A DVD Talk foi mais dura: “ele te desafia a se importar, então te faz se arrepender”. As comparações com filmes de arte europeus não estavam erradas. Este não era anime para fãs casuais. Era para pessoas prontas para chorar em seus controles remotos de TV às 2 da manhã. E de alguma forma, aquele pequeno grupo de pessoas nunca se esqueceu disso.

Wolf’s Rain está atualmente disponível para streaming no Crunchyroll e para compra no Apple TV (ou iTunes), Amazon Video e Google Play.

Os criadores seguiram em frente, mas a atmosfera permaneceu

Ainda não superamos Wolf’s Rain

Depois de Wolf’s Rain, a equipe criativa se dispersou, mas continuou fazendo grandes coisas. Yoko Kanno fez a trilha sonora de Ghost in the Shell: Stand Alone Complex. Kawamoto trabalhou em Mob Psycho 100. Okamura dirigiu Darker than Black e ajudou a moldar Blue Exorcist. Tragicamente, a roteirista Keiko Nobumoto faleceu em 2021, mas sua obra continua viva em Tokyo Godfathers e Macross Plus. Esses criadores moldaram uma geração de anime que ousou sentir algo profundo. Wolf’s Rain não se tornou um sucesso de bilheteria, mas você pode assisti-lo online ou comprá-lo agora. Para aqueles que perderam na primeira vez, ainda está esperando.

Afinal, Wolf’s Rain nunca foi feito para ser um sucesso. Era estranho demais, triste demais e lento demais. Mas é exatamente por isso que importava. Adult Swim ajudou a trazê-lo ao mundo, mas o mundo nem sempre sabia o que fazer com ele. Vinte anos depois, ainda se destaca como um dos animes mais ousados e emocionantes já exibidos na TV americana. Se você revisitar agora, pode achar que é ainda mais poderoso. Ou mais doloroso. De qualquer forma, você vai se lembrar. Porque algumas histórias não foram feitas para entreter. Foram feitas para te assombrar.

Fonte: SR