O Studio Ghibli é um dos estúdios de animação mais admirados do mundo, conhecido por sua animação deslumbrante, narrativas profundas e forte carga emocional. Desde os cenários vibrantes de A Viagem de Chihiro até a melancolia sensível de Ontem e Hoje, seu catálogo abrange uma notável variedade de estilos, gêneros e atmosferas. No entanto, com tanta popularidade, surgiram também diversos equívocos — muitos dos quais persistem mesmo entre fãs de longa data.
Alguns desses mitos são inofensivos, mas outros acabam reduzindo a rica diversidade criativa do estúdio. Parte da magia do Ghibli está justamente na sua capacidade de surpreender e quebrar expectativas. Por isso, é hora de desfazer algumas ideias equivocadas. Estes nove mitos comuns não apenas são incorretos — eles subestimam a profundidade e a genialidade por trás da história do estúdio.
1. Mito: Nausicaä do Vale do Vento foi o primeiro filme do Studio Ghibli

Realidade: Nausicaä foi lançado antes da fundação oficial do estúdio.
Embora frequentemente associado ao Studio Ghibli, Nausicaä do Vale do Vento (1984) foi produzido antes da criação oficial do estúdio. Dirigido por Hayao Miyazaki, seu sucesso motivou a fundação do Ghibli, em 1985. Apesar de sua importância para a identidade criativa do estúdio, tecnicamente não é uma produção Ghibli.
O filme traz elementos que definiriam o estilo de Miyazaki: uma protagonista feminina forte, temas ecológicos e um mundo cuidadosamente construído. Por isso, é considerado o “início espiritual” do estúdio, embora não oficialmente.
2. Mito: O Studio Ghibli tem apenas um estilo de animação
Realidade: O Ghibli explora uma ampla variedade de estilos visuais.
Embora haja uma identidade visual marcante — como fundos detalhados e animação feita à mão — cada diretor traz sua própria estética. Filmes como Meu Vizinho Totoro e O Conto da Princesa Kaguya são visualmente muito diferentes.
Isao Takahata, por exemplo, rompeu com o estilo tradicional em obras como Meus Vizinhos, os Yamadas, que se parece com aquarelas animadas, e Kaguya, inspirado na arte japonesa tradicional. Até o próprio Miyazaki variou bastante, como em Ponyo, com visuais suaves e infantis.
3. Mito: O Studio Ghibli só faz filmes felizes e aconchegantes
Realidade: Muitos filmes do estúdio são sombrios, tristes ou profundamente emocionais.
Apesar da aparência encantadora, muitos filmes do Ghibli abordam temas duros e complexos. O Túmulo dos Vaga-lumes é um retrato devastador da guerra. Vidas ao Vento trata da tensão entre sonho e destruição.
Mesmo obras mais suaves, como Sussurros do Coração ou Ontem e Hoje, lidam com ansiedade, amadurecimento e desilusão. O estúdio não evita dor ou ambiguidade moral — sua narrativa é multifacetada e profunda.
4. Mito: Todos os filmes do Ghibli são histórias originais
Realidade: Muitos filmes do estúdio são adaptações literárias.
Diversos filmes clássicos do Ghibli são baseados em obras literárias. O Castelo Animado vem de um romance de Diana Wynne Jones; As Memórias de Marnie, do livro homônimo de Joan G. Robinson; Arrietty é uma adaptação de Os Pequeninos.
Kiki: A Aprendiz de Feiticeira também é baseado em um romance de Eiko Kadono. O que diferencia o Ghibli não é a originalidade do enredo, mas a forma como transforma essas histórias em experiências cinematográficas únicas e emocionantes.
5. Mito: O Studio Ghibli só faz filmes
Realidade: O estúdio também cria curtas, comerciais, jogos e conteúdos exclusivos.
Além dos longas-metragens, o Ghibli produziu curtas exibidos exclusivamente no Museu Ghibli, como Mei e o Gato-Ônibus e Boro, a Lagarta. Também trabalhou em comerciais, videoclipes e no jogo Ni no Kuni: A Ira da Bruxa Celestial, com animações que seguem o estilo do estúdio.
A criatividade do Ghibli ultrapassa as telas de cinema, influenciando diversas mídias com sua estética e sensibilidade narrativa.
6. Mito: Todos os filmes do Ghibli são mágicos e fantásticos
Realidade: O estúdio também produz dramas realistas e sem elementos sobrenaturais.
Embora muitos filmes usem fantasia, nem todos seguem esse caminho. O Túmulo dos Vaga-lumes é completamente realista e sem escapismo. Ocean Waves e Ontem e Hoje são dramas cotidianos sobre juventude, relacionamentos e amadurecimento.
Filmes como Da Colina Kokuriko também evitam o fantástico, focando em questões humanas, sociais e familiares. O Ghibli usa a fantasia como recurso, não como regra.
7. Mito: Hayao Miyazaki fundou o Studio Ghibli sozinho e dirige todos os filmes
Realidade: O estúdio foi cofundado por Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki.
Embora Miyazaki seja a face mais conhecida do estúdio, o Ghibli é fruto da colaboração com o diretor Isao Takahata e o produtor Toshio Suzuki. Takahata dirigiu alguns dos filmes mais marcantes do estúdio, como O Túmulo dos Vaga-lumes e O Conto da Princesa Kaguya.
Miyazaki teve papel central, mas não é responsável por todos os projetos, e o sucesso do Ghibli é resultado de um esforço coletivo.
8. Mito: Os filmes do Ghibli seguem sempre a mesma fórmula narrativa
Realidade: O estúdio adota estruturas narrativas variadas e ousadas.
Enquanto alguns filmes seguem jornadas convencionais, outros apostam em uma estrutura mais solta, contemplativa ou poética. Meu Amigo Totoro, por exemplo, não tem um conflito clássico ou clímax dramático, mas encanta com sua atmosfera e simplicidade.
O Ghibli valoriza experiências sensoriais, emoções sutis e o ritmo natural da vida, criando filmes que muitas vezes fogem das convenções do cinema comercial.
9. Mito: O Studio Ghibli produz conteúdo apenas para crianças
Realidade: Muitos de seus filmes são voltados ao público adulto ou tratam temas complexos.
Apesar de acessíveis para crianças, muitos filmes do Ghibli foram feitos pensando em um público mais maduro. Vidas ao Vento, Ontem e Hoje e O Conto da Princesa Kaguya abordam questões como guerra, arrependimento, envelhecimento e responsabilidade.
O estúdio acredita na inteligência do público infantil, mas nunca limita suas histórias a uma faixa etária específica. Seu apelo é universal porque trata de emoções humanas com sinceridade e profundidade.