Logo após sua estreia, Game of Thrones se tornou um fenômeno televisivo mundial. A série da HBO utilizou de forma excelente os livros de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo, como base, trazendo o mundo fantástico de Westeros e suas inúmeras facções rivais à vida em live-action de maneira espetacular e, frequentemente, brutal. Ao longo de 73 episódios distribuídos em oito temporadas, Game of Thrones foi um grande sucesso para a HBO, e também deixou sua marca na cultura pop, tornando-se uma das séries de TV mais vistas e comentadas da história moderna. Entretanto, nem sempre foi totalmente fiel ao material original.
No decorrer de sua exibição, Game of Thrones ultrapassou os livros de Martin, criando sua própria narrativa. Algumas das mudanças feitas por Game of Thrones em relação aos livros foram até melhores, mas outras não agradaram tanto. Seja por decepção do público ou por simples oportunidade perdida, a série de TV, de fato, se distanciou dos livros de diversas maneiras.
1) Tyrion assassina Shae
Aquele que parecia ser um dos melhores romances de Game of Thrones tornou-se sangrento quando Tyrion encontrou Shae na cama de seu pai. A relação entre os dois pode ter estado fadada desde o início, mas o afeto genuíno que eles nutriam um pelo outro durante a série foi um dos poucos aspectos reconfortantes. Contudo, na série, Shae se volta contra Tyrion depois que ele a afasta para a segurança dela, culminando em seu fim violento.
Após Tyrion encontrar Shae na cama de seu pai, ela o ataca com uma faca, e ele a estrangula até a morte em legítima defesa. Entretanto, nos livros, ele simplesmente mata Shae em um acesso de raiva, ressaltando o lado mais sombrio do ódio de Tyrion por seu pai. Ao fazer com que Shae atacasse Tyrion primeiro, a série fez com que Tyrion parecesse um pouco melhor, mas o desfecho deles fez menos sentido e, no fim das contas, traiu os livros sem motivo algum.
2) Sansa se casa com Ramsay
Em muitas ocasiões, Game of Thrones adicionou arcos narrativos inteiros que não estavam presentes nos livros. Talvez o mais polêmico deles tenha sido o casamento de Sansa Stark com Ramsay Bolton, sobretudo porque resultou em vários momentos incrivelmente sádicos durante o sofrimento de Sansa nas mãos de Ramsay. Embora certamente tenha adicionado bastante drama à série, traiu os livros por não fazer muito sentido.
Na série, Mindinho casa Sansa com Ramsay, apesar de tudo sobre Mindinho como personagem sugerir que ele a manteria muito mais próxima. Sua própria ambição teria sido muito melhor servida se ele tivesse convencido Sansa a se casar com ele, em vez de colocá-la de propósito no perigo que Ramsay representava para ela. Narrativamente, não havia necessidade real para a adição, a não ser para adicionar ainda mais sofrimento ao já sombrio arco da personagem Sansa.
3) A morte de Robb Stark
O destino de Robb Stark no Casamento Vermelho serviu como uma das mortes mais importantes de Game of Thrones, mas também foi uma traição do material original de uma maneira especialmente sutil. Na série, Robb se apaixona por Talisa, casa-se com ela e quebra sua promessa de se casar com a filha de Walder Frey, o que, por fim, leva a Casa Frey a conspirar contra os Starks com os Lannisters. Entretanto, nos livros, o destino de Robb, embora similar, é bem menos egoísta e contém uma dose poética de ironia.
Nos livros, Robb é consolado pela aparente perda de seus irmãos por Jeyne Westerling, a filha de um lorde com quem ele dorme e então se casa a fim de proteger a reputação dela. O casamento de Robb nos livros não é egoísta, mas sim uma escolha honrosa, o que, por fim, faz com que sua índole boa seja sua ruína. Isso faz com que a morte de Robb ecoe a de seu pai, originando-se da exploração dos Lannisters de seus respectivos traços nobres. Contudo, a série perdeu esse elemento de morte narrativa ao transformar o casamento de Robb em um ato egoísta de amor.
4) Jaime e Cersei no Septo
Embora Game of Thrones seja conhecida como uma das melhores séries de fantasia de todos os tempos, grande parte de seu encanto, na realidade, provém dos elementos mais humanos de seu drama. Esse é certamente o caso dos personagens de Jaime e Cersei Lannister, cujo relacionamento incestuoso é um dos aspectos românticos mais perturbadores de toda a série. Contudo, uma cena entre eles foi alterada em relação aos livros para torná-la bem mais chocante.
Nos livros, Jaime e Cersei se encontram no Septo de Baelor logo após a morte de Joffrey, onde eles sofrem juntos ao lado de seu cadáver antes de compartilharem um momento íntimo inadequado, porém consensual. Na série, a cena foi alterada para ser não consensual, com Cersei dizendo a Jaime que suas ações são inapropriadas antes que ele continue a agredi-la diante do cadáver de Joffrey. Foi uma traição incrivelmente desnecessária do material original, sobretudo considerando que não fez diferença real alguma para a história além de adicionar ainda mais violência sexual.
5) Daenerys não lamenta Viserys
Tanto a série quanto os livros estabelecem que a família Targaryen é assombrada por sonhos de dragões. Muitos desses sonhos são proféticos, embora mesmo aqueles que não são transmitam bastante significado para seus personagens. Nos livros, Daenerys sonha constantemente com seu irmão Viserys após a morte dele, sendo, de fato, assombrada por seu irmão do além-túmulo, marcando seu luto e emoções conflitantes sobre o único membro da família que ela teve por grande parte de sua vida.
Game of Thrones, entretanto, fez uma escolha estranha de mudar isso para a série. Em vez de fazer Viserys reaparecer para Daenerys, ele nunca mais é visto após sua morte, o que sugere sutilmente que ele significava muito pouco para sua irmã. Ao remover as cenas em que Daenerys reflete sobre seu relacionamento tenso e complexo com Viserys, ela parece uma figura bem mais fria e implacável do que precisava ser, traindo sua representação no material original como resultado.
6) Os filhos Stark não serem metamorfos
Fãs que amavam Game of Thrones frequentemente citam os filhos Stark como os personagens mais importantes da série, já que suas respectivas histórias unem toda a narrativa extensa do início ao fim. Entretanto, existem vários aspectos dos personagens que estavam presentes nos livros que ficaram de fora da série e, de muitas maneiras, os Starks se saíram pior por causa disso. Nos livros, todos os filhos Stark ou são mostrados se transformando em seus lobos gigantes ou tendo sonhos de fazer isso.
A série não mencionou essa habilidade para nenhum dos irmãos Stark além de Bran. Bran é o único Stark na série com quaisquer talentos sobrenaturais, o que está todo ligado à sua capacidade de warg e ao seu destino como o Corvo de Três Olhos. Ao deixar de fora a habilidade dos Starks de se transformarem com seus lobos gigantes, Game of Thrones perdeu uma oportunidade não apenas de usar os elementos mais fantásticos dos livros, mas também de incorporar ainda mais os amados amigos animais dos personagens à narrativa da série.
7) A consumação do casamento de Drogo e Daenerys
Assim como com Cersei e Jaime Lannister, o tratamento de Game of Thrones para os arcos narrativos românticos também foi problemático para Daenerys e Khal Drogo. No primeiro episódio da série, Daenerys é dada a Khal Drogo como sua noiva para consolidar uma aliança entre os Targaryens e os Dothraki. Tanto nos livros quanto na série, Drogo acaba sendo o primeiro grande amor de Daenerys, mas o tratamento da história pela série é bem mais problemático.
No livro, Drogo seduz Daenerys e, por fim, obtém o consentimento dela para consumar seu casamento. Na série, o casamento deles é consumado à força, com Drogo repetidamente se forçando em Daenerys após o casamento. Isso não apenas faz com que o amor eterno dela por ele pareça bem menos romântico, mas também é outro exemplo de violência sexual adicionada desnecessariamente ao que, de outro modo, merecia ser um relacionamento amoroso e respeitoso.
8) Tudo sobre Euron Greyjoy
No decorrer da exibição de Game of Thrones, a série apresentou muitos personagens sádicos e extravagantes. Euron Greyjoy se destacou entre eles por muitas razões, sobretudo porque estava no centro de alguns dos melhores episódios de batalha de Game of Thrones. Pilou Asbæk interpretou Greyjoy de forma excelente na série, mas sua representação ainda traiu o material original de algumas maneiras que, no fim das contas, se mostraram relativamente decepcionantes.
Nos livros, Euron Greyjoy é, de fato, o antagonista supremo, portando magia, notável proeza em combate e carisma sombrio que é contrabalançado por uma incrível veia sádica. Para a série, tudo sobre o personagem foi diluído, tornando-o bem menos interessante, bem menos ameaçador e bem menos divertido. Foi uma mudança decepcionante e completamente desnecessária em relação a um dos antagonistas mais emocionantes dos livros, traindo o material original de forma importante ao torná-lo pouco mais do que um ponto da trama.
9) Alterações nas idades dos personagens
Apesar de todo o sucesso de Game of Thrones na tela pequena, estava longe de ser uma adaptação fiel dos livros de George R. R. Martin. De certa forma, isso funcionou a favor da série, mas, em outros, não. Uma das maiores mudanças que ela fez foi nas idades de seu elenco principal, especialmente as da família Stark. O elenco envelheceu consideravelmente para a série e, embora isso tenha ajudado Game of Thrones a lidar com alguns dos elementos mais maduros da história, perdeu parte da tragédia dos livros no processo.
Quando se trata de Ned e Catelyn Stark, os livros os retratam como tendo trinta e poucos anos, enquanto a série os apresenta como bem mais velhos. Isso torna seus fins trágicos bem mais prematuros nos livros, o que também alimenta as histórias de seus filhos. Robb Stark, por exemplo, lidera seu exército com a tenra idade de 15 anos, enquanto na série ele é um homem adulto. De muitas maneiras, isso fez com que a série perdesse um pouco da ingenuidade orgânica dos personagens, forçando-os a serem escritos como figuras mais endurecidas e calculistas.
10) A morte de Catelyn Stark
Houve inúmeras mortes devastadoras em Game of Thrones, mas poucas foram tão chocantes para os espectadores quanto as de Robb e Catelyn Stark no Casamento Vermelho. No entanto, os livros levaram a história de Catelyn mais longe, enquanto a série optou por simplesmente encerrar seu arco narrativo com sua morte nas mãos da Casa Frey.
Nos livros, Catelyn foi ressuscitada pela Irmandade Sem Bandeiras, consideravelmente mudada por seus ferimentos e pelo tempo que passou morta após o Casamento Vermelho. Os livros mostram Catelyn Stark se transformar em Lady Stoneheart, uma sombra meio decomposta e quase silenciosa de seu antigo eu. Desprovida de qualquer empatia ou perdão, Lady Stoneheart é uma força vingativa que busca vingança por seu assassinato. Embora a escolha da série de ignorar completamente esse ponto da trama seja compreensível, ela rouba desnecessariamente de Game of Thrones uma de suas figuras mais aterrorizantes e trágicas.
Fonte: CB